faz de conta...
Faz de conta: você acordou, ligou para o salão e marcou um horário. Na hora do almoço, foi lá e pediu: Corta bem curto. O cabeleireiro não acreditou no que ouvia. Afinal, seus quase cinquenta centímetros de cabelo sempre foram, na sua cabeça (literalmente), uma espécie de atestado da sua feminilidade. Mas agora eles teriam de ser curtos. Para que suas ideias ficassem longas. Ele colocou a mão um pouco abaixo do seu ombro: Mais ou menos aqui? Você segurou a mão dele, levou-a na altura da sua orelha, e disse: Tosa. Depois você passou naquela loja onde tem uns vestidos moderninhos e coloridos. Você entrou e pediu aquele cor de laranja com borboletas, muito mais curto do que os que você costuma usar. Aproveitou e pediu a sapatilha da vitrine. Arrancou o seu terninho bege, sua camisa branca e seu escarpim marrom. Deixou tudo por lá mesmo, no provador. E quando a vendedora perguntou o que fazer com aquilo, você disse: Queima. Quando você retornou ao trabalho, uma hora depois do horário de costume, com aquele vestidinho e com os cabelos daquele jeito, a roda em torno de você foi se formando. Uns, animadíssimos. Outros, nem tanto. Alguns reprovaram. Como as coisas já não andavam muito bem por ali, sua chefe lhe chamou no final do dia para conversar, e avisou que as coisas não poderiam continuar daquele jeito, ou ela teria que substituir você. E você disse: Substitui. Saindo de lá deu vontade de jantar naquele bistrô aonde você acha que só deveria ir no dia do seu aniversário ou outra data importante. Você mal encostou seu carro e já veio o dono da rua, dizendo que eram dez pratas para parar ali. E, como você não deu bola, o homem começou aquela conversinha surrada dizendo, na entrelinha da entrelinha, que um eventual não-pagamento antecipado incorreria em riscos indesejáveis na pintura do seu bólido. Você pegou o celular, digitou três números, mostrou o visor para o homem e, já com o dedo na tecla “ligar”, disse: Risca. Faz de conta que você chegou em casa e sua filha de dezessete anos estava na sala com o namorado. Você teve que contar de novo a história daquele vestido e daquele cabelo e, como chovia, sua filha sondou se o rapaz poderia dormir ali. E, enquanto jogava no lixo aquela agendinha que você só usava no trabalho, você disse: Pode.
Quando se deitou para dormir, aquele anjo que costuma vir conversar com você antes do sono se empoleirou na cabeceira da sua cama. Elogiou o cabelo, o vestido, a decisão no trabalho, o presente de não-aniversário, o chega-pra-lá no dono da rua, a atitude com a filha. Só por curiosidade, perguntou que bicho havia mordido você. E você, se ajeitando no travesseiro e já desligando o abajur, disse: Nenhum. No dia seguinte, vendo que eram dez da manhã e você ainda não havia se levantado, sua filha entrou no quarto, vocês conversaram e no final ela perguntou como é que vocês viveriam dali para frente. Com certa ironia, ela arriscou dizer que com as bolsas e os badulaques que você produzia e vendia nos finais de semana é que não seria. E você disse: Sim. À tarde, você procurou o dono daquele galpão que você havia visto para alugar, perfeito para uma oficina, e fez uma oferta. O homem coçou a cabeça, pediu um pouquinho mais, e você disse: Fechado. À noitinha, você foi até a casa dos seus avós, assim, de surpresa. E, de surpresa, você os beijou. E quando eles perguntaram o que era aquilo, você disse: Amor. Faz de conta que foi assim. Faz de conta que foi desse jeito que você virou a mesa. Que resolveu não perder mais tempo, fazer o que gosta e ser do jeito que você, só você, acha que fica mais bonita. Faz de conta que você morreu. E que alguém lhe deu a oportunidade de voltar para um terceiro tempo. Então. Agora vai lá e faz tudo de verdade.

Posted on sábado, 28 de agosto de 2010 @ 21:46

move on
Agora, depois de mais despedidas, mais cicatrizes, mais interrogações, mais "poderia ser diferente" só me resta continuar nessa estrada sinuosa, com essas marcas velhas e repletas de lembranças. O roteiro é o mesmo. Mas eu já não sou a mesma. Aonde contém esperança, contém medo, angústia. Porém, estou mais doce, sei aproveitar mais, quando quero. Continuo mimada, continuo inconstante, continuo confusa... Mesmo não querendo continuar. Continuar em mim, continuar nessa estrada. Mesmo querendo, implorando outra história. Ao mesmo tempo continua a nostalgia, o frio na barriga, as insônias, os momentos de menina levada. Continuo a andar, observo a estrada, percebo as mudanças. Os buracos continuam lá mas não se deixam transparecer. Me sinto leve, me sinto muito mais eu. Percebo que toda estrada tem suas marcas, toda história tem o bem e o mal, tem hora de ser vilã e hora de ser mocinha. E isso não me incomoda. Não mais. (autoria própria)

Posted on quarta-feira, 14 de julho de 2010 @ 19:05

adeus, meu amor
Adeus, meu amor, logo nos desconheceremos. Mudaremos os cabelos, amansaremos as feições, apagarei seus gostos e suas músicas. Vamos envelhecer pelas mãos. Não andarei segurando os bolsos de trás de suas calças. Tropeçarei sozinho em meus suspiros, procurando me equilibrar perto das paredes. Esquecerei suas taras, suas vontades, os segredos de família. Riscarei o nosso trajeto do mapa. Farei amizade com seus inimigos. Sua bolsa não se derramará sobre a cadeira. Não poderei me gabar da rapidez em abrir seu sutiã. Vou tirar a barba, falar mais baixo, fazer sinal da cruz ao passar por igrejas e cemitérios. Passarei em branco pelos aniversários de meus pais, já que sempre me avisava. O mar cobrirá o desenho das quadras no inverno. As pombas sentirão mais fome nas praças. Perderei a seqüência de sua manhã - você colocava os brincos por último. Meus dias serão mais curtos sem seus ouvidos. Não acharei minha esperança nas gavetas das meias. Seus dentes estarão mais colados, mais trincados, menos soltos pela língua. Ficarei com raiva de seu conformismo. Perderei o tempo de sua risada. A dor será uma amizade fiel e estranha. Não perceberei seus quilos a mais, seus quilos a menos, sua vontade de nadar na cama ao se espreguiçar. Vou cumprimentá-la com as sobrancelhas e não terei apetite para dizer coisa alguma. Não olharei para trás, para não prometer a volta. Não olharei para os lados, para não ameaçá-la com a dúvida. Adeus, meu amor, a vida não nos pretende eternos. Haverá a sensação de residir numa cidade extinta, de cuidar dos escombros para levantar a nova casa. Adeus, meu amor. Não faremos mais briga em supermercado, nem festa ao comprar um livro. Não puxaremos assunto com os garçons. Não receberemos elogios de estranhos sobre nossas afinidades. Não tocaremos os pés de madrugada. Não tocaremos os braços nos filmes. Não trocaremos de lado ao acordar. Não dividiremos o jornal em cadernos. Não olharemos as vitrines em busca de presentes. O celular permanecerá desligado. Nunca descobriremos ao certo o que nos impediu, quem desistiu primeiro, quem não teve paciência de compreender. Só os ossos têm paciência, meu amor, não a carne, com ânsias de se completar. Não encontrará vestígios de minha passagem no futuro. Abandonará de repente meu telefone. Na primeira recaída, procurará o número na agenda. Não estava em sua agenda. Não se anota amores na agenda. Na segunda recaída, perguntará o que faço aos conhecidos. As demais recaídas serão como soluços depois de tomar muita água. Adeus, meu amor. Terá filhos com outros homens. Terá insônia com outros homens. Desviará de assunto ao escutar meu nome. Adeus, meu amor. (Fabrício Carpinejar)

Posted on segunda-feira, 12 de julho de 2010 @ 21:58

há de ser bonito, há de ser...
Ela precisa mesmo é se perder dentro do sim. Precisa de um viver mais brando, sereno, com alegrias cantando cá fora e amor regando um coração lá dentro. Ela precisa ficar sozinha e há de ser melhor. Ela há de ver estrelas hoje Deus e entender os seus sonhos. Um vento há de balançar os cabelos fio por fio, como a vida faz com o passado da gente. Soprando mágoas, há de vir o presente. E eu até peço de olhos fechados - pra não ver orgulho ir embora -, deixe ela um pouco só, menos provável e mais impossível. Faça-a bonita demais pros meus trapos e me acompanhe nessa solidão incurável que sustento. Que seja melhor do que esse pouco que pareço, mas nem tão melhor quanto o muito que sinto. Eu só preciso dela e ela há de se perder e me encontrar de novo Deus, no tempo. Nesse viver dormindo que a gente só entende depois que sonha tudo pelo avesso e acorda morrendo. E acorda Menina por que “há de ser bonito, há de ser”.

Posted on quarta-feira, 9 de junho de 2010 @ 09:15

Ser mulher...
Ser mulher é pior que ser lavrador - tem tanta coisa pra cuidar na plantação e na colheita: depilar pernas com cera, raspar axilas, fazer sombrancelhas, passar pedra-pomes nos pés, esfoliar e hidratar a pele, tirar os cravos, pintar a raiz dos cabelos, passar rímel, lixar as unhas, massagear as celulites, exercitar os músculos da barriga. a coisa é tão complexa que basta você esquecer durante uns dias e lá se vai a plantação. à vezes eu penso se deixasse tudo por conta da natureza - barba comprida, bigode de pontas viradas, sombrancelhas grossas, rosto igual a um cemitério, cheio de células mortas, espinhas na pele, unhas longas como as da Mortícia Adams, cega como um morcego sem as minhas lentes de contato, o corpo flácido balançando. argh, argh. É de espantar que as garotas sejam inseguras? (Retirado do livro: O diário de Bridget Jones)

Posted on sábado, 5 de junho de 2010 @ 02:07

auto-estima = ser você mesma
Não é sobre os outros, é sobre você. E disso você deveria saber. Não importa o quanto a menina sentada ao seu lado no ônibus é bonita. Ou quanto a outra, sentada mais ao fundo, é feia. Não é sobre quantos caras te olham na rua, ou quantos gostariam de ter. Não faz diferença a cor do seu cabelo, pele, o quanto pesa, as roupas que veste. Parabéns se você fala inglês, alemão, italiano, francês, espanhol... Mas a diferença não mora aí. Porque você não deveria se importar com esses detalhes. É verdade sim que os detalhes fazem toda a diferença. Mas não nesse caso, então nem preste atenção neles. Pouco importa o que os outros dizem ou pensam. Você é o que você é e a sua essência eles não podem mudar. Não deixe os outros te mudarem, não se encaixe em padrões se você não gostar disso. Seja você mesmo e goste de quem você é. É sobre isso, é isso que importa. A única coisa que importa é o que você acha de si mesmo e se você gosta disso. É disso que se trata autoestima. O resto é só opinião alheia. E restos você coloca no lixo.

Posted on sexta-feira, 4 de junho de 2010 @ 02:00

Não tão humana assim
Eu erro, eu fraquejo, me machuco. Eu perco a direção. Sou humana. Eu me apaixono, me iludo com promessas fáceis e sorrisos tentadores, posso evitar? Não... Sou humana, sou mulher. Meu corpo pede adrenalina, pede afeto, pede emoção... Mas muitas vezes recebe desprezo, decepção, angústia mútua. E não, não posso evitar. Não posso evitar as borboletas no estômago, o teu perfume, não posso evitar meu olhar querendo o teu. O pensamento vai longe, vai pra perto de você, vai para onde eu queria estar. Nostalgia total. Angústia total. A consciência? Acusa: Tolinha, você mais uma vez estragou tudo. Estraguei. Sou humana. Estraguei porque talvez não seja capaz de possuir alguém, não me possuo... Imagine então possuir alguém. Estraguei mais uma vez pela minha ânsia de acertar. E a consciência? Grita: Mudança, já! Mudar, mudar... e mudar. A solução talvez então seria essa? Não. A solução não é a mudança... A solução é eu ser mais humana e aceitar que as coisas são do jeito que são. Ser mais humana e me doar antes de desejar doação completa. A solução é mais pé no chão e mesmo assim não desistir de tocar o céu... É, talvez eu não seja tão humana quanto eu penso... (Autoria Própria)

Posted on quarta-feira, 2 de junho de 2010 @ 22:55

pessoa errada
Pensando bem em tudo o que a gente vê e vivencia e ouve e pensa, não existe uma pessoa certa pra gente. Existe uma pessoa que se você for parar pra pensar é, na verdade, a pessoa errada. Porque a pessoa certa faz tudo certinho! Chega na hora certa, fala as coisas certas, faz as coisas certas, mas nem sempre a gente tá precisando das coisas certas. Aí é a hora de procurar a pessoa errada. A pessoa errada te faz perder a cabeça, perder a hora, morrer de amor... A pessoa errada vai ficar um dia sem te procurar que é pra na hora que vocês se encontrarem a entrega ser muito mais verdadeira. A pessoa errada, é na verdade, aquilo que a gente chama de pessoa certa. Essa pessoa vai te fazer chorar, mas uma hora depois vai estar enxugando suas lágrimas. Essa pessoa vai tirar seu sono. Essa pessoa talvez te magoe e depois te enche de mimos pedindo seu perdão. Essa pessoa pode não estar 100% do tempo ao seu lado, mas vai estar 100% da vida dela esperando você. Vai estar o tempo todo pensando em você. A pessoa errada tem que aparecer pra todo mundo, porque a vida não é certa. Nada aqui é certo! O que é certo mesmo, é que temos que viver cada momento, cada segundo, amando, sorrindo, chorando, emocionando, pensando, agindo, querendo, conseguindo... E só assim, é possível chegar àquele momento do dia em que a gente diz: "Graças à Deus deu tudo certo" Quando na verdade, tudo o que Ele quer é que a gente encontre a pessoa errada pra que as coisas comecem a realmente funcionar direito pra gente...

Posted on sexta-feira, 28 de maio de 2010 @ 22:43

falas decoradas
Eu não procuro alguém pra pentencer e ter posse, só quero uma fonte segura de amor que não dependa das obrigações, das falas decoradas, dos scripts prontos. Eu sei que eu abri mão de várias oportunidades. Sei que fiz pouco caso do amor que me entregaram de maneira pura e gratuita, só porque eu achava que podia encontrar coisa melhor. Se as pessoas estão sempre indo e vindo, eu só queria alguém minimamente eterno em sua duração, que me fizesse parar de achar normal essa história de perder as pessoas pela vida. Vou embora querendo alguém que me diga pra ficar. Estou sempre de partida, malas feitas, portas trancadas, chave em punho. No fundo eu quero dizer "Me impede de ir. Fica parado na minha frente e fala que eu tenho lugar por aqui, que não preciso abandonar tudo cada vez que a solidão me derruba. Me ajuda a levar a vida menos a sério, porque é só vida, afinal." E acabo calada, porque não faz sentido dizer tudo isso sem ter pra quem.

Posted on @ 13:23

Remar. Re-amar. Amar.
Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou (...). Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia (...). Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena. Remar. Re-amar. Amar.

Posted on @ 13:20

Carta
''...transmite uma sensação estranha, de uma sabedoria e uma amargura impressionantes. É lenta e quase não fala. Tem olhos hipnóticos, quase diabólicos. E a gente sente que ela não espera mais nada de nada nem de ninguém, que está absolutamente sozinha e numa altura tal que ninguém jamais conseguiria alcançá-la. Muita gente deve achá-la antipaticíssima, mas eu achei linda, profunda, estranha, perigosa. É impossível sentir-se à vontade perto dela, não porque sua presença seja desagradável, mas porque a gente pressente que ela estará sempre sabendo exatamente o que se passa ao seu redor. ''


Carta - Clarice Lispector (Caio Fernando Abreu)

Posted on @ 13:11

cativa-me
-O que quer dizer cativar? 
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. 
Significa criar laços… 
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim… Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. 
Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo… Mas a raposa voltou a sua idéia:  - Minha vida é monótona. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora como música. E depois, olha! Vês, lá longe, o campo de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. E então serás maravilhoso quando me tiverdes cativado. O trigo que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento do trigo… A raposa então calou-se e considerou muito tempo o príncipe: - Por favor, cativa-me! disse ela.  - Bem quisera, disse o principe, mas eu não tenho tempo. Tenho amigos a descobrir e mundos a conhecer.  - A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não tem tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres uma amiga, cativa-me! Os homens esqueceram a verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas…

Posted on quinta-feira, 20 de maio de 2010 @ 21:17

eu quero...
Sou forte. Meio doce e meio ácida. Em alguns dias acho que sou fraca. E boba. Preciso de um lugar onde enfiar a cara pra esconder as lágrimas. Aí penso que não sou tão forte assim e começo a olhar pra mim. Sou forte sim, mas também choro. Sou gente. Sou humana. Sou manhosa. Sou assim. Quero que as coisas aconteçam já, logo, de uma vez. Quero que meus erros não me impeçam de continuar olhando para a frente. E quero continuar errando, pois jamais serei perfeita (ainda bem!). Tampouco quero ser comum e normal. Quero ser simplesmente eu. Quero rir, sorrir e chorar. Sentir friozinho na barriga, nó no peito, tremedeira nas pernas. Sentir que as coisas funcionam e que tenho que trocar de jeito quando insisto em algo que não dá resultado. Quero aprender e, ainda assim, continuar criança. Ficar no sol e sentir o vento gelado no nariz. Quero sentir cheiro de grama cortada e café passado. Cheiro de chuva, de flor, cheiro de vida. Aprecio as coisas simples e quero continuar descomplicando o que parece complicado. Se der pra resolver, vamos lá! Se não dá, deixa pra lá. A vida não é complicada e nem difícil, tudo depende de como a gente encara e se impõe. Quero ser eu, com minha cara azeda e absurdamente açucarada. Não quero saber tudo e nem ser racional. Quero continuar mantendo o meu cérebro no lugar onde ele se encontra: meu coração. E essa é a melhor parte de mim.

Posted on @ 19:19

Preciso sim, preciso tanto. Alguém que [...] Que me desperte com um beijo, abra a janela para o sol ou a penumbra. Tanto faz, e sem dizer nada me diga o tempo inteiro alguma coisa como eu sou o outro ser conjunto ao teu, mas não sou tu, e quero adoçar tua vida. Preciso do teu beijo de mel na minha boca de areia seca, preciso da tua mão de seda no couro da minha mão crispada de solidão. Preciso dessa emoção que os antigos chamavam de amor, quando sexo não era morte e as pessoas não tinham medo disso que fazia a gente dissolver o próprio ego no ego do outro e misturar coxas e espíritos no fundo do outro-você, outro-espelho, outro-igual-sedento-de-não-solidão, bicho-carente, tigre e lótus. Preciso de você que eu tanto amo e nunca encontrei. Para continuar vivendo, preciso da parte de mim que não está em mim, mas guardada em você que eu não conheço. Tenho urgência de ti, meu amor. Para me salvar da lama movediça de mim mesmo. Para me tocar, para me tocar e no toque me salvar. Preciso ter certeza que inventar nosso encontro sempre foi pura intuição, não mera loucura. Ah, imenso amor desconhecido... (Caio Fernando Abreu)

Posted on sábado, 15 de maio de 2010 @ 19:31

Como você me dói de vez em quando
Sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor, pois se eu me comovia vendo você, pois se eu acordava no meio da noite só pra ver você dormindo, meu Deus...como você me doía! De vez em quando eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno, bem no meio duma praça, então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta, mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme...só olhando você, sem dizer nada só olhando e pensando: Meu Deus, mas como você me dói de vez em quando! (Caio Fernando Abreu)

Posted on sexta-feira, 14 de maio de 2010 @ 23:29

Enumero proposições como: a ser uma pessoa menos banal, a ser mais forte, mais seguro, mais sereno, mais feliz, a navegar com um mínimo de dor. Essas coisas todas que decidimos fazer ou nos tornar quando algo que supúnhamos grande acaba, e não há nada a ser feito a não ser continuar vivendo. Então, que seja doce. Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim: que seja doce. Quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo, repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante. Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce, talvez não saiba responder. (Caio Fernando Abreu)

Posted on quarta-feira, 12 de maio de 2010 @ 23:59

menino bobo
Eles eram tão colonizados, tão caretas e carentes, eles estavam tão perdidos no meio daquela fantasia sub-havaiana que já ia acabar. Ela era só uma moça querendo escrever um livro e ele era só um moço querendo morar num barco, mas se realimentando um do outro para. Para quê? Eles pareciam não ter a menor idéia. O cheiro dele era tão bom nas mãos dela quando ela ia deitar, sem ele. O cheiro dela era tão bom nas mãos dele quando ele ia deitar, sem ela. O corpo dela se amoldava tão bem ao dele, quando dançavam. Ele gostava quando ela passava óleo nas suas costas. Ela gostava quando, depois de muito tempo calada, ele pegava no seu queixo perguntando ― o que foi, guria? Ele gostava quando ela dizia sabe, nunca tive um papo com outro cara assim que nem tenho com você. Ela gostava quando ele dizia gozado, você parece uma pessoa que eu conheço há muito tempo. E de quando ele falava calma, você tá tensa, vem cá, e a abraçava e a fazia deitar a cabeça no ombro dele para olhar longe, no horizonte do mar, até que tudo passasse, e tudo passava assim desse jeito. Ele gostava tanto quando ela passava as mãos nos cabelos da nuca dele, aqueles meio crespos, e dizia bobo, você não passa de um menino bobo... (Caio Fernando Abreu)

Posted on domingo, 9 de maio de 2010 @ 23:22

incolor
Eu sou muito negativa, ás vezes acho que eu gosto é da dor, do que deixa meus dias amargos, frios... sem cor. Eu quando tô feliz, atraio tudo que é negatividade, pra acabar com a minha felicidade, e parece que eu torço pra isso. Sabe? Parece que nada é suficiente, eu fico querendo mais e mais, e acabo ficando com menos. Eu eu atraio, atraio, e acontece, pronto, acabou... Adeus felicidade momentânea, de volta a velha rotina incolor. E ai só fica o vazio. Talvez eu não fui feita pro amor, e se fui, ele deve ter se perdido no caminho.. Ou percebeu que eu sou uma tremenda cilada. (Autoria própria)

Posted on @ 22:58

meu descompasso

O meu radicalismo, a minha entrega, o meu desapego pelo óbvio e a minha inconstância, chocam! Até eu me assusto com a forma como assusto as pessoas, sinto que sou dotada de extravagâncias que todos vêem, mas eu desconheço. Será que banalizar sentimentos, aceitar a rotina e sentir tara pelo comum é o que esperam de mim? Será esse o segredo dos socialmente adequados? Sinto muito em decepcionar, mas eu nasci para os extremos, para as ousadias, aposto nas improbabilidades e acredito no impossível. Eu só gosto do que é pra valer, do que dói quando me deixa, do que aperta o coração quando não tá perto, do que ou é doce de enjoar ou amargo de fazer careta. Eu não suporto a covardia dos indecisos, o medo dos que não arriscam, a voz dos que sempre calam e muito menos o conformismo dos que desistem. Sou aversão a hipocrisia, a choro falso, a gargalhada abafada, a essa gentinha que anda por ai dizendo o que gente tem que ser e não faz metade do que diz. Tenho profunda admiração pelos que vivem em liberdade, que seguem suas crenças, seus valores, que criam um ideal, vivem nele e as vezes morrem por ele. Num mundo onde tudo é relativo, eu vou com aqueles que respeitando isso não desistem de procurar o absoluto. Sou tão adulta quanto a vida me exija e tão criança quanto o coração me implore. Sou decisão, 0.8 ou 800, sou sono profundo e insônia, montanha russa, descompasso, sou desastrada, exagerada, insensata no amor, passional no ciúme, doente na paixão, sou toalha molhada na cama, sou mil livros na cabeceira e 'trocentas' músicas na cabeça, sou aquele choro de deixar a cara amassada e aquela risada que pode ser ouvida do outro lado da rua, sou coração simples e humilde, mas sempre certo. Sou tanto erro e tão pouco acerto, tanta sorte e tão pouco juízo, tanta coragem e tão pouco destino. Sou isso, sou outras coisas, mas sou eu mesma.

Posted on @ 21:34

two is better than one
A vida é engraçada as vezes. Pode ser barra pesada. Como quando se apaixona por alguém. Mas eles esquecem de te amar de volta. Quando a sua melhor amiga e seu namorado te deixam sozinha. Quando puxa o gatilho ou acende o fogo e não pode voltar atrás. Como eu disse... no esporte, chamam isso ''de se superar''. Na vida eu chamo isso de pegar pesado. (...) Sabe a expressão que "as melhores coisas da vida são de graça"? Bem, essa expressão é verdadeira. De vez em quando as pessoas se superam se tornando mais corajosas com elas mesmas. Às vezes, elas te surpreendem. Às vezes, elas cedem fácil. A vida é engraçada, às vezes. Pode nos surpreender, mas se você estiver perto o suficiente você encontrará esperança... No mundo das crianças. Numa canção. Nos olhos de alguém que você ama.E se você tiver sorte... Digo, se você for a pessoa mais sortuda desse planeta... A pessoa que você ama, decidirá te amar de volta.  / (one tree hill)

Posted on sexta-feira, 7 de maio de 2010 @ 10:44

anestesiada
Já acordei às seis, por medo de perder a escola. Corri pelas ruas só para pegar o ônibus e entrei atordoada fazendo com que todos me olhassem apavorados. Já esqueci objetos quaisquer em todos os lugares, e parei em frente à uma loja quando vi que passava algo interessante na televisão. Eu até disputei a frente de um ventilador potente num dia de calor, só para que minha voz saísse interrompida entre as hélices, e minha mãe achasse graça. Já quis escrever com a mão esquerda por achar mais bonito. Andei de pés no chão, suei, e tive preguiça de tomar banho. Comi bala e não quis escovar os dentes sem que mamãe viesse me ajudar. Em noites, senti frio. N'outras, quase derreti. Já peguei sorvetes, derramei em meus amigos e até me diverti com isso. Preste atenção, essa sou eu, criança, quase boba, despreocupada, feliz. Hoje, acordo na esperança de que alguém atravesse o meu caminho e apenas me faça sorrir, um amigo qualquer, um sorriso qualquer. Não me importo tanto em parar em cada esquina, assistir televisão, ou falar frente ao ventilador. Quero tanto menos, ou mais. Músicas são minhas companheiras, livros são minha história. Vivo de olhos fechados. Impressionada comigo mesma, sou tranquila, e tão irritada. Passaria tardes inteiras observando crianças trocando palavras, com inveja de tudo que elas podem e eu não. Ficaria noites jogando com meus primos, mas não. Meus compromissos pedem meu sono, e o tempo é meu dono. Eu quase não vivo, sou vivida. Anestesiada, esta sou eu, insensível, inexistente. Só peço que alguém me alegre, para amenizar meu mau humor, e tornar mais fáceis os meus dias. Não preciso de um amor. Angústia feia esta, de não ser mais criança.

Posted on quinta-feira, 6 de maio de 2010 @ 11:17

Se não for por bem, vai ser por mal.
Aprendi tudo que eu acho que deveria aprender. Se não foi por bem, foi por mal... Uma hora a gente aprende. Aprendi a me amar, a ser mais eu... Sempre. Aprendi que, amor? Amor não vem com o tempo, se funcionou com você, me dê a receita. Aprendi que pra ser amor, não precisa de data validade, ou de fabricação, amor vem, amor vai, independente do tempo de duração, a gente sabe. Aprendi que amigos de verdade vão estar com você na alegria e na tristeza, e se você tiver um desses, não o deixe ir jamais. Aprendi que quando uma coisa tem que ir embora, ela se vai, é falta de QI insistir no que jamais deu certo, a gente sabe, a gente sabe. Aprendi que na vida tudo é merecimento, nada cai do céu, e muito menos vem de graça, tudo tem seu preço. Aprendi também que a vida deixa marcas que jamais serão apagadas, pessoas que jamais serão substituídas, e que nada é por acaso. Aprendi... e você vai aprender também, se não for por bem, será por mal, é a vida é assim... Abstrai! (autoria própria)

Posted on @ 09:02

ele não está tão afim de você
Ensinam muitas coisas às garotas: Se um cara lhe machuca, ele gosta de você; nunca tente aparar a própria franja; e, um dia, vai conhecer um cara incrível e ser feliz para sempre. Todo filme e toda história implora para esperarmos por isso: a reviravolta no terceiro ato, a declaração de amor inesperada, a exceção à regra. Mas às vezes focamos tanto em achar nosso final feliz que não aprendemos a ler os sinais, a diferenciar entre quem nos quer e quem não nos quer, entre os que vão ficar e os que vão nos deixar. E talvez esse final feliz não inclua um cara incrível. Talvez seja você sozinha recolhendo os cacos e recomeçando, ficando livre para algo melhor no futuro. Talvez o final feliz seja só seguir em frente. Ou talvez o final feliz seja isto: saber que mesmo com ligações sem retorno e corações partidos, com todos os erros estúpidos e sinais mal interpretados, com toda a vergonha e todo constrangimento, você nunca perdeu a esperança...


(retirado do filme: ele não está tão afim de você)

Posted on @ 00:20

piloto-automático
Quando deito na cama para ler o livro dos meus dias, invariavelmente encontro nas minhas frases sem concordância os maiores acertos.E foi escrevendo um desses parágrafos rasurados que te vi errando também.Mas tinhas a capacidade de escrever sem olhar pras mãos. Olhavas pra mim, do outro canto daquela sala. No entanto, com hercúleo esforço, superei minha curiosidade e todos os meus mais primitivos instintos, para conseguir esperar o forte, intenso e último toque que a tua caneta deu naquela folha branca. Então eu comecei a escrever compulsivamente, extrapolando os limites do papel, riscando mesas, sofás, tapetes, inclusive o chão, até que minha caneta alcançou o teu papel. A página está totalmente em branco, e podemos escrever nela o que quisermos. Mas eu sou ator do tipo que improvisa, e minhas perguntas não se encaixariam nas tuas respostas decoradas. O destino é um conceito que inventaram para que a gente pudesse recostar nossos ombros nas cordas da acomodação, quando, na verdade, dispomos de todos os meios que precisamos para suplantar essas cordas e traçar nosso próprio caminho, rumo a lugares jamais visitados, pagando para isso o preço que for. Eu não deixo minha vida se viver por mim, sozinha. E não há piloto-automático que seja capaz de contornar essas curvas tão fechadas que cortam meus caminhos. Fui eu quem as projetou, justamente para serem assim.

Posted on segunda-feira, 3 de maio de 2010 @ 21:00


biography
Na identidade: Tárcylla Barreto Alves, 16 anos, fututra estudante de Relações Púbicas. Na prateleira: Caio F. Abreu, Clarice Lispector, Tati Bernardi, Martha Medeiros, Verônica H, Brena Braz, etc. No fone de ouvido: Charlie Brown Junior, Pitty, Cmtn, Los Hermanos, Nando Reis, Lady Gaga, entre outras tantas... No Coração: Uma fé gigante, uma vontade de algo que não se define, uma inconstância que nem eu entendo, um medo de terminar sozinha, uma mania de querer todo mundo por perto, um peso que nunca vai embora, um vazio que me cansa. Eu não quero rótulos nem roteiros prontos. Não sou produto, sou só coração. Eu sou reticências. Sou 3 pontinhos. Sou o não-dito. Sou emoção e desejo. Palavras são o meu antídoto. Anti-monotonia, anti mau-humor, anti todo o amor que não há...



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