piloto-automático
Quando deito na cama para ler o livro dos meus dias, invariavelmente encontro nas minhas frases sem concordância os maiores acertos.E foi escrevendo um desses parágrafos rasurados que te vi errando também.Mas tinhas a capacidade de escrever sem olhar pras mãos. Olhavas pra mim, do outro canto daquela sala. No entanto, com hercúleo esforço, superei minha curiosidade e todos os meus mais primitivos instintos, para conseguir esperar o forte, intenso e último toque que a tua caneta deu naquela folha branca. Então eu comecei a escrever compulsivamente, extrapolando os limites do papel, riscando mesas, sofás, tapetes, inclusive o chão, até que minha caneta alcançou o teu papel. A página está totalmente em branco, e podemos escrever nela o que quisermos. Mas eu sou ator do tipo que improvisa, e minhas perguntas não se encaixariam nas tuas respostas decoradas. O destino é um conceito que inventaram para que a gente pudesse recostar nossos ombros nas cordas da acomodação, quando, na verdade, dispomos de todos os meios que precisamos para suplantar essas cordas e traçar nosso próprio caminho, rumo a lugares jamais visitados, pagando para isso o preço que for. Eu não deixo minha vida se viver por mim, sozinha. E não há piloto-automático que seja capaz de contornar essas curvas tão fechadas que cortam meus caminhos. Fui eu quem as projetou, justamente para serem assim.Posted on segunda-feira, 3 de maio de 2010 @ 21:00